Publicado em 18/03/2025 - às 17:16
Por Redação | Jornal Conquista
Uma mãe denunciou um caso de desrespeito envolvendo sua filha autista de 9 anos dentro de um ônibus do transporte público de Vitória da Conquista. O caso ganhou repercussão após ser exibido no programa Bahia Meio Dia, da TV Sudoeste.
Jaqueline é mãe de dois filhos autistas e explicou que Cecília, além do autismo, possui outras condições, como bipolaridade, transtorno na fala e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) severo. Segundo ela, a menina não conseguiu passar pela catraca, e a cobradora se recusou a aceitar a situação, dando início a uma discussão que terminou na delegacia.
O episódio ocorreu na semana passada, quando Jaqueline entrou no ônibus com a filha e informou à cobradora que a criança não poderia atravessar a catraca devido ao desconforto e agitação que o processo lhe causava. Apesar disso, a funcionária insistiu que era uma norma da empresa e que Cecília deveria passar pela catraca.
Durante a discussão, a menina desceu do ônibus, e Jaqueline permaneceu dentro do veículo. Em seguida, segundo a mãe, a cobradora teria ordenado ao motorista que seguisse viagem, mas ele se recusou ao perceber que a criança estava do lado de fora.
Diante da situação, Cecília teve uma crise e precisou ser acalmada. Jaqueline registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil, denunciou o caso ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público e contratou um advogado para buscar reparação por danos morais. “Vamos acionar tanto a empresa Atlântico quanto o município de Vitória da Conquista, tendo em vista que o ocorrido gerou constrangimento tanto para a criança quanto para a mãe”, afirmou Lucas da Cunha, advogado da família.
A delegada Rosilene Moreira confirmou que este foi o segundo caso na mesma semana envolvendo desrespeito a uma pessoa autista no transporte público da cidade, ambos relacionados à empresa Atlântico Transportes. “A gente teve outro registro também envolvendo uma criança portadora do TEA, e isso nos preocupa. O transporte público deve ser acompanhado e administrado por pessoas que têm responsabilidade e comprometimento. Isso será apurado”, declarou.
A psicóloga infantojuvenil Edmilla Arielle explicou que pessoas dentro do espectro autista podem apresentar resistência a estímulos como sons, cheiros e multidões. Segundo ela, “O espectro nada mais é do que a forma individual desse autista se comporta diante do mundo. Cada um tem sua subjetividade dentro do autismo”.
Em nota, a Prefeitura de Vitória da Conquista informou que está investigando o caso e afirmou que irá elaborar uma cartilha de ética para motoristas, cobradores e demais profissionais do transporte público. Além disso, solicitou às empresas do setor que promovam capacitação para seus funcionários em relações humanas e atendimento a pessoas com necessidades especiais.
A Associação das Empresas do Sistema de Transporte Coletivo Urbano de Vitória da Conquista (Atuv) esclareceu que a normatização da Prefeitura permite que pessoas com necessidades especiais embarquem pela porta do meio, mas manteve a exigência de que todos os outros passageiros passem pela catraca. Até o momento, a Atlântico Transportes não se manifestou oficialmente sobre o ocorrido.
Jaqueline espera que o caso sirva de alerta para evitar novos episódios semelhantes. “Isso não pode continuar acontecendo. Muitas mães passam por situações semelhantes, mas nem sempre conseguem denunciar”, afirmou.