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Caso em Vitória da Conquista deu início a uma das maiores investigações sobre tráfico internacional de armas do Brasil

Apreensão na BR-116 levou a PF a rastrear um esquema que envolvia militares paraguaios e alcançava facções e políticos do Rio de Janeiro.

Por Redação | Jornal Conquista
Publicado em 17/11/2025 - às 16:02
Foto: Divulgação.

Em novembro de 2020, uma operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) resultou na apreensão de 23 pistolas escondidas em um ônibus de turismo na BR-116, em Vitória da Conquista.

O caso, inicialmente tratado como uma abordagem de rotina, acabou se tornando o ponto de partida de uma das maiores investigações sobre tráfico internacional de armas do Brasil.

A abordagem aconteceu quando o veículo, que seguia de São Paulo para o município de Poções, foi parado para inspeção. Durante a revista, o peso incomum de duas mochilas chamou a atenção dos agentes.

Dentro delas estavam pistolas calibre 9 mm, produzidas pela fabricante croata HS Produkt, todas com a numeração de série raspada, considerado um indício claro de que o armamento tinha como destino o mercado ilegal.

Ao analisar o caso, equipes da Polícia Federal da Bahia identificaram um padrão que se repetia em outros estados. Em um intervalo de pouco mais de um ano, cerca de 100 armas do mesmo modelo e fabricante, pouco comuns no tráfico brasileiro, haviam sido apreendidas em cinco estados.

A partir da recuperação parcial da numeração de 13 pistolas, peritos conseguiram rastrear a origem: todas haviam sido importadas para o Paraguai pela empresa International Auto Supply (IAS), sediada em Assunção.

A investigação revelou que a IAS comprava as armas por aproximadamente 220 euros (cerca de R$ 1,4 mil), simulava vendas legais para terceiros e, na prática, repassava o armamento a intermediários responsáveis por apagar as identificações e enviá-lo a facções criminosas no Brasil, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho.

O avanço da apuração levou à deflagração da Operação Dakovo, em dezembro de 2023, que cumpriu 25 mandados de prisão no Brasil e no Paraguai. Entre os principais alvos estavam o general paraguaio Jorge Antonio Orue Roa, ex-diretor da Dimabel, e o argentino Diego Hernan Dirísio, apontado como dono da IAS e considerado o maior contrabandista de armas da América do Sul.

A investigação também alcançou compradores brasileiros ligados ao crime organizado. Um deles era Fhillip da Silva Gregório, conhecido como “Professor”, líder do tráfico no Complexo do Alemão (RJ). Ele teve a prisão decretada, mas morreu em junho de 2024. A polícia concluiu que ele tirou a própria vida.

Novos desdobramentos deixaram evidente a tentativa de infiltração do crime organizado em estruturas do Estado. Trocas de mensagens envolveram o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, o ex-secretário estadual de Esporte e Lazer Alessandro Carracena e o secretário de Defesa do Consumidor, Gutemberg de Paula Fonseca.

As conversas indicavam tentativas de interferir no policiamento, pagamento de propina, pedidos de “cobertura” política e até negociações sobre veículos roubados. Para a PF, TH Joias atuava como um braço político da facção.

O material apreendido segue sendo analisado, enquanto a Polícia Federal aprofunda as investigações sobre a conexão do Comando Vermelho com estruturas públicas.



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