Moradores bloqueiam BA-263 em protesto contra fechamento do Hospital de Itambé

Na manhã deste sábado (3), moradores de Itambé bloquearam a BA-263, no trecho que liga o município a Vitória da Conquista, em protesto contra o fechamento do Hospital Regional São Sebastião, também conhecido como Santa Casa de Misericórdia de Itambé.

A manifestação contou com cartazes, palavras de ordem, pneus queimados e interrupção do trânsito nos dois sentidos da rodovia.

A mobilização ocorre após a direção do hospital anunciar, na sexta-feira (2), a suspensão dos atendimentos a partir da próxima segunda-feira (5), após 72 anos de serviços prestados à população.

O motivo, segundo ofício assinado pelo provedor da unidade, Uilliam Nery, são as severas dificuldades financeiras que a instituição vem enfrentando, agravadas por bloqueios judiciais decorrentes de causas trabalhistas.

De acordo com o documento divulgado pela direção, o hospital acumula atualmente dívidas que ultrapassam R$ 3,5 milhões. Entre janeiro e abril de 2025, a unidade recebeu R$ 610.970,68, mas teve R$ 286.753,26 bloqueados judicialmente, restando pouco mais de R$ 358 mil para custear todas as despesas operacionais. A folha de pagamento líquida, sozinha, representa cerca de R$ 150 mil mensais.

De acordo com o blog Itambé Agora, funcionários estão com salários atrasados há dois meses e os médicos não recebem há pelo menos três. Além disso, há escassez de medicamentos, insumos, alimentos e recursos para pagamento de contas básicas, como água, energia elétrica e fornecedores locais.

A administração ainda cita como exemplo o valor considerado “desproporcional” de uma das ações judiciais: mais de R$ 3,6 milhões cobrados por um médico que atuou no hospital durante cinco anos. Segundo o provedor, os bloqueios recorrentes estão inviabilizando o funcionamento da unidade de saúde, que classifica a situação como uma “avalanche de débitos”.

A crise foi apresentada à Prefeitura Municipal no último dia 25 de abril, durante reunião com o prefeito, vice-prefeito e secretários. Na ocasião, a direção do hospital expôs detalhadamente os débitos acumulados junto ao comércio local — fornecedores de alimentos, materiais de consumo, medicamentos, insumos e material de construção — além das dívidas fiscais e causas judiciais.

O secretário municipal de Saúde, Valdeci Porto, informou que a Prefeitura tem dado suporte ao hospital com cessão de profissionais, materiais e equipamentos, mas ainda não há definição sobre a retomada dos serviços. A população cobra uma resposta efetiva do poder público para evitar o colapso total do sistema de saúde no município.

Com o fechamento do hospital, a expectativa é que moradores de Itambé passem a buscar atendimento médico em Vitória da Conquista. A mudança pode provocar sobrecarga nos serviços da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e nos postos de saúde do município, que já enfrentam alta demanda.

Além disso, a população de Itambé teme um agravamento na situação de saúde pública, sobretudo em casos de emergência, gestantes, crianças e idosos, que dependem de atendimento imediato. Muitos moradores relatam sentimentos de abandono e insegurança diante da possível lacuna na assistência médica.

A comunidade itambeense tem um histórico de apoio à instituição. Ao longo dos últimos 20 anos, campanhas de arrecadação de alimentos e doações voluntárias foram realizadas para ajudar a manter o funcionamento do hospital. O movimento popular também conta com o apoio de veículos de imprensa locais, como o blog Itambé Agora, que tem divulgado constantemente a situação da Santa Casa.

Durante o protesto deste sábado, frases como “A saúde é um direito, não um privilégio” e “SOS ao Hospital de Itambé” foram exibidas por moradores que cobram das autoridades uma solução urgente para impedir o encerramento definitivo dos serviços de saúde no município.

Confira o Ofício Circular nº 006/2025 na íntegra: